sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Astrid & Gastón

Nunca tinha ido ao Astrid & Gastón - nem aqui no Peru (que é a matriz da casa), nem em qualquer outra parte do mundo. Já conhecia alguns dos restaurantes do Gastón (o Tanta e o Panchita aqui em Lima, o La Mar de São Paulo e o Chicha, em Arequipa), mas faltava conhecer o mais famoso deles!

Nós já tínhamos tentado jantar lá uma vez, quando um casal de amigos veio nos visitar, mas - ingênuos que somos - tentamos reservar na véspera, e a atendente disse que podíamos "tentar aparecer" depois das 22:30hs... porém, ainda assim não conseguimos um lugarzinho pra nós.

Numa outra ocasião um casal de amigos veio nos visitar (com a reserva já feita - bem mais espertos que a gente!), mas eu e Fred não pudemos comparecer porque tínhamos algum evento da embaixada, na mesma data.

Finalmente, nessa semana, fizemos nosso debut!

O restaurante fica numa casa antiga, aqui em Miraflores. Antiga mesmo. Paredes super grossas, piso (provavelmente original) de ardósias decoradas (super bonito!) e tábuas de madeira, também daquelas antigas, que faz barulho quando a gente pisa.

O bar é grande e agradável - até porque, muita gente deve ficar por ali esperando mesa! Além da casa original (que comporta o bar, o salão principal e a cozinha) eles expandiram seus salões para a casa ao lado, não tão charmosa, mas que é onde montaram a adega. As paredes são todas cobertas por garrafas de vinho, e aproveitaram para colocar por ali algumas mesas. Foi aí que ficamos. O ambiente é até mais agradável! Menos movimentado.

O menu não é tão extenso - cerca de 15 ou 20 pratos - mas o principal é o menu degustação, composto de 11 pratos. Preço: S./170,00 (cerca de R$ 102,00).

Pedimos uma sugestão ao maître, especialmente para sabermos se o menu seria demais para nós - 11 pratos, afinal, não é pra qualquer um... e não é mesmo! Ele sugeriu que reduzíssemos a quantidade de pratos. Acatamos. Nos serviriam 4 entradas e 2 pratos principais. Achei ótimo, até porque eu não queria abrir mão da sobremesa! :)

Enquanto aguardamos os prato tomamos nossas bebidinhas (todas com pisco, claro)! Eu tomei um coquetel de guanabana (uma fruta daqui bem parecida com graviola) e mandarina (tangerina), que tava uma delícia! Rolou também um pisco com maracujá, limão e manjeiricão (para nossa amiga) e um de pisco com frutas vermelhas e camu camu (outra típica daqui), pro Fred.

O couvert era composto por clássicos: manteiga, azeite de oliva e uma misturinha de azeite e temperos variados (delícia!). O toque diferente (e delicioso) ficou por conta de uma cesta de pães variados, dentre os quais você podia escolher pão de batata, de pimentão, de milho, de milho roxo (maiz morado - um tipo de milho que tem aqui), integral, de cereais, dentre outros... todos quentinhos e deliciosos!! O de batata é fantástico! E o de pimentão, embora eu não tenha provado, era liiiindo! Parecia um briochinho saído do forno!

Então vieram as entradas. Primeiro um prato com 3 tira gostos pequeninos - um amuse bouche, mesmo... só pra dar um gostinho. Uma cestinha recheada com um creme de carangueijo, camarão e um pouquinho de palta (o abacate que eles usam em várias comidas), um canudinho (também da mesma massinha finíssima com a qual fizeram as cestinhas de carangueijo) recheado com um tartar de atum delicioso, e uma causa limenha com carne moída e pimentão (esse eu não provei, porque não curto pimentão de jeito nenhum!).

A segunda entrada, que veio junto com estes tira-gostos, era um trio de ceviches. Clássico. Não poderia mesmo faltar! A respeito do ceviche, uma curiosidade. O ceviche que comi no La Mar (também do Gastón), em São Paulo, era 10 vezes mais picante do que o ceviche que estamos acostumados a comer aqui! Não sei se naquele dia o maître errou a mão na pimenta, mas, fato é, que o ceviche aqui em Lima (inclusive no restaurante do próprio Gastón) é muito menos picante do que o ceviche que comi no Brasil (em restaurante peruano! Do Gastón!).

A terceira entrada era uma causa limenha. A causa limenha  é como se fosse uma bolinha de purê de batata, bem temperadinha, que pode ser feita de diversos tipos de batatas (já que eles têm mais de 400 tipos de batata por aqui!). Além de causas de diferentes tipos de batata, elas vêm sempre com uma cobertura diferente. Essa era coberta com um creminho de camarão e um camarãozão. Até então tudo delicioso!

Vieram então as vieiras gratinadas com parmesão - quarta e última entrada. Assim como minha relação com o pimentão é conturbada, também tenho um problema com "conchas", então dei só uma provadinha... justo.

Sinceramente, a essa altura do campeonato nós já estávamos mega satisfeitos... e ainda faltavam os 2 pratos principais! Sério. Não dá pra encarar um menu de 11 pratos. Inviável! Embora tudo estivesse delicioso, e as porções fossem menores do que normalmente são... é muita comida! E eu já estava com receio de não conseguir chegar até a sobremesa... (mulher é fogo, né?! Rs...)

O primeira prato principal era um atum envolvo em uma crosta de pimenta - leve, não muito picante - que veio no ponto perfeito! Do jeito que eu gosto, pelo menos, ou seja, com o meio um pouco cru. O atum estava delicioso, mas o acompanhamento estava fantástico! Era um purê de batata doce (camote) com laranja e mel. Incrível! E olha que eu nem curto tanto mel! 
O equilíbrio perfeito com a crosta de pimenta do atum... maravilhoso!

Devo confessar que depois do atum nós fraquejamos. Pedimos para cancelar o segundo prato, se fosse possível... mas não era. Entre entradas e os prato houve um pequeno intervalo... mas  assim como as entradas foram servidas todas juntas (exceto pelas conchas, que vieram um pouco depois - justamente pelo fato de serem quentes), quando serviram o atum já estavam terminando de preparar o segundo prato, então, provamos ele também!

O segundo prato era um cabrito cozido no leite. O cozimento deve ter começado umas 12 horas antes de servir o prato, pois ele estava delicioso, literalmente se desmanchando! Muito bom!!

Depois dessa insana farra gastronômica, é claro que a gente não conseguiu pedir sobremesa. Diante de nossas caras de desconsolo (ok... da minha cara de desconsolo!) o garçom nos animou confirmando que com o café viriam uns docinhos! :) 

Dito e feito! Deliciosos! Macarrons (bons, mas já provei melhores), mini alfajores (deliciosos), gelatina de lúcuma (não provei) e trufas de chocolate (deliciosas)!

Jantar delicioso!!

Cabe, ainda, um elogio especial para o serviço que estava impecável! Os garçons, ao perceberem que falávamos português, arranhavam algumas palavras no nosso idioma para nos agradar. Além disso, na hora de servirem os pratos, o garçom que os apresentou o fez em um português quase perfeito! Achei super simpático!

E, confirmando a questão da acessibilidade às boas experiências gastronômicas, que rola aqui no Peru, este jantar (naquele que a crítica considera o melhor restaurante do País), para três pessoas, custou cerca de R$ 250,00... Sério.

Minha humilde avaliação pessoal é de que, embora seja um restaurante delicioso, com ambiente agradável e serviço impecável, não se trata do melhor restaurante de Lima. Talvez porque eu só tenha ido uma vez e ainda não tenha tido tempo de provar outras delícias... ou talvez porque realmente tenha apreciado mais outras delícias, de outros restaurantes... Mas é incontestavelmente um restaurante ótimo, que vale a visita, inclusive porque este já é uma instituição limenha.

E aí? Se animou? 

Beijos,
Tila.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

A capital gastronômica da América Latina

Depois de quase um ano morando em Lima, nós finalmente fomos conhecer o Astrid & Gastón! Mas antes de fazer o posto sobre o jantar em si, vou falar um pouquinho da questão da gastronomia aqui no Peru.

Para que não está tão familiarizado com esse mundinho gastronômico (falou a entendida!), o Astrid & Gastón é o primeiro, dos muitos, restaurantes do Gastón Acurio. Ele é um chef peruano que teve a ideia de promover a gastronomia  do País (não só por aqui, mas em todo o mundo). A ideia era organizar a cena gastronômica peruana, profissionalizando e investindo na promoção desse "patrimônio cultural".

Aqui no Peru, como vocês já devem ter percebido pelos meus posts, come-se muito bem! Sério. O arroz que os caras fazem, é sempre uma delícia! E é arroz, meu! Daí pra diante todo o resto é delicioso. Sabe aquele receio que a gente tem, quando está com fome e escolhe um lugar para almoçar, sem saber ao certo se o lugar é bom, sem ter uma recomendação específica? Sem saber se a gente tá entrando numa roubada daquelas? Pois é, aqui esse receio não existe... 

Depois de viver um tempo por aqui posso garantir que ninguém precisa ficar meio apreensico na hora de entrar num restaurante que não conhece, que não foi indicado por um conhecido ou por algum guia. Tá com fome? Gostou da "cara" do lugar? Pode entrar e comer que eu garanto que você vai comer bem.

Aqui difícil é encontrar um lugar em que a comida seja ruim. Pode ser mais ou menos sofisticada, claro. E, é óbvio que se você tem alguma restrição alimentar é melhor se informar sobre qual o tipo de comida que se serve no lugar - afinal, não adianta entrar num japa se você não gosta de peixe cru, pois provavelmente você não vai gostar da refeição (muito embora, seja possível que você encontre algo no cardápio que te apeteça...), assim como, se você não gosta de peixes e frutos do mar, não adianta entrar num restaurante que só serve isso!

Mas, enfim... fato é que eu ainda não comi mal por aqui. Mesmos naquelas cadeias de restaurante populares, em que eu já me arrisquei - especialmente quando chegamos aqui e não conhecíamos nada - me dei bem. Já comi em quilo, e tava tudo certo! Também já almoçamos no meio de uma ilha, no Lago Titicaca (2 horas de viagem de barco), numa casa super simples (de um "local") - pois não tinha restaurante - em que a sopinha e o peixe com arroz estavam deliciosos!

Bom, daí o Gastón teve uma brilhante ideia: já que o povo aqui tem o dom de cozinhar bem, pois por mais simples que seja a comida, ela é saborosa... e considerando que há vários ingredientes diferentes, típicos daqui... bem como existe uma culinária diversificada dependendo da região do País em que você está... por que não promover a gastronomia peruana? Transformá-la em uma atração, num "patrimônio cultural" nacional? E assim foi feito.

Lima, especialmente, é uma cidade que - comparada com o resto do País - não tem tantos atrativos turísticos. O que acontecia era que todo mundo que vinha visitar o Peru - Machu Picchu, especialmente - tinha de passar por Lima, mas só "pingava" aqui para fazer a conexão do vôo e seguir para Cusco. 

Com o desenvolvimento e a propaganda da gastronomia peruana, hoje em dia o povo vem pra cá e fica pelo menos um ou dois dias na cidade, nem que seja apenas para fazer o "turismo gastronômico". 

O calendário turístico de Lima já incorporou até um festival gastronômico anual - o Mistura - que faz um sucesso incrível aqui. São 10 dias de uma feira gastronômica, em que você pode comer muito barato (barato sério... por R$ 5,00 você compra o cupom para doces e/ou meia porção e por R$ 7,00 você compra o cupom de porção inteira), experimentando vários ingredientes diferentes e pratos típicos das mais diversas regiões do País. É muito bacana! Além disso, há palestras de chefs e pessoas envolvidas com a gastronomia, e também convidados internacionais (nesse ano veio o Alex Atala e a Mara Salles daí do Brasil) que vêm falar para os interessados no assunto.

E tudo isso graças a ideia - e o esforço - do Gastón e de todos que aceitaram o desafio, e trabalharam para a profissionalização da gastronomia por aqui - outros chefs de sucesso também colaboraram bastante, como o Rafael Osterling e o Pedro Schiaffino que têm restaurantes muito bons, também!

Para se ter uma ideia do que o Gastón "causou", o cara aqui é como o Silvio Santos: se ele sair candidato à presidência, é barbada. Ele ganha sem a menor sombra de dúvida!

Ele teve uma ideia simples, que exigiu esforço, claro... mas que deu certo. Lima, hoje, é considerada a capital gastronômica da América Latina. 

Daí você pensa: "Ah.... mas São Paulo tem muito mais restaurantes. Essa história aí é pura promoção... propaganda enganosa!".

Claro que é promoção. O cara teve uma super ideia, investiu nisso e deu certo! Mas e daí?! Fato é que, embora São Paulo tenha mais restaurantes (afinal, é uma cidade bem maior do que Lima!), a culinária em Lima é muito mais acessível do que em São Paulo. Será que isso não a torna, de fato, a capital gastronômica da América Latina?! Porque aqui você não precisa deixar as calças para comer num restaurante renomado ou em qualquer outro lugar que tenha uma culinária deliciosa. 

Pelo contrário, com R$ 60,00 um casal come muito bem num ótimo restaurante japonês! Com R$ 120,00 um casal janta no melhor restaurante de massas de Lima (com vinho, tá?)! E ontem no melhor restaurante do País - o Astrid & Gastón (do próprio), jantei com o Fred e uma amiga, por cerca de R$ 250,00. Sério. Deve ser não só o melhor restaurante do País - segundo a crítica gastronômica (eu ainda não tenho condições de avaliar...rs), mas, possivelmente, seguindo esse raciocínio, o mais caro do País. E um jantar, com direito a menu degustação, saiu por cerca de R$ 80,00 por pessoa! É ou não incrível?

Tenho sido muito crítica em relação aos preços de São Paulo, mas eu sinceramente acho um absurdo pagar R$ 70,00 para comer um buffet de saladas e massas, com uma água mineral, só porque o Ráscal é descoladinho. Ou pagar R$ 50,00 para comer um galeto com salada no Galetto's. Isso porque eu não tô falando dos restaurantes caros, badalados, ou "gastronômicos", ok?! Tô falando de restaurante que tem em praça de alimentação de shopping!

Outro dia li uma reportagem de um "restauranteur" dizendo que ele cobra caro porque os ingredientes são ótimos e o serviço é fantástico. Ok. Mas precisa mesmo ser tão caro?! Depois de morar aqui, e ver que é possível fazer uma culinária de extrema qualidade, com serviço também impecável, apresentação perfeita e preços acessíveis, me desculpe, mas aquele Sr.  deve estar de brincadeira!

Enfim, eu realmente acho que aqui é a capital gastronômica da América Latina (o que dificulta imensamente meus planos de emagrecer), afinal, além de deliciosa, feita com cuidado e com o intuito de agradar o comensal, é acessível. Você consegue provar muita coisa diferente e saborosa, sem precisar gastar horrores. Torna-se um programa ótimo! Vale muito a pena conhecer!

Que o digam todos os nossos amigos e familiares que vieram nos visitar nesse ano! :)

Beijos,
Tila.

PS: no próximo post eu falo de como foi nosso jantar de ontem! Prometo!