domingo, 16 de junho de 2013

Diário de Viagem - Tarma

Outro dia acordei pensando no Blog... mais especificamente como estou relapsa e atrasadíssimas nos meus posts! Sendo assim, mãos à obra!

Há muito tempo atrás (foi em julho do ano passado... vejam o atraso da pessoa!) fizemos nossa segunda viagem de carro pelo Peru. 

Na primeira nós fomos à Chincha (contei aqui ó!). A viagem para Chincha foi feita pela Panamericana Sur, estrada boa, com 3 pistas em cada sentido e, muito embora o padrão "sem lei" aplicado no trânsito nas cidades se repita nas estradas, o fato de ser uma estrada ampla e sem muito trânsito não nos trouxe maiores perrengues... É verdade que tivemos de nos adaptar ao fato de que todas as ultrapassagens têm se der feitas pela direita, pois o povo aqui simplesmente não conhece o conceito de sair-da-frente-quando-um-veículo-mais-rápido-vem-atrás-de-você... Algo simples como: ceder a passagem. Aqui eles não cedem nunca. Aliás, eles não entendem essa regra de trânsito nem se você der farol, ligar a seta, buzinar... eles simplesmente continuam na velocidade de cruzeiro de 60 Kms por hora, na faixa da esquerda e, se você quiser, que fique à vontade para ultrapassar pela direita. Como sempre, cada um por si no trânsito peruano. Affff...

Bom, depois dessa não tínhamos feito mais nenhuma viagem de carro e haviam alguns lugares relativamente próximos que nós gostaríamos de conhecer e que daria para aproveitar a caranga... Um colega do marido tinha comentado sobre a cidade de Tarma, cuja grande atração era a produção de flores, e o fato de ficar bem no centro do País, relativamente perto de Lima - uns 240 quilômetros. Resolvemos conhecer. Aproveitamos uma quinta-feira, véspera de feriado, e saímos de casa por volta das 16hs, calculando que em cerca de três horas estaríamos na cidadezinha.

Ah... ledo engano. Levamos uma hora e meia para percorrer 70 kms, e conseguirmos sair de Lima!!! Já comentei que o trânsito aqui é um inferno. Pois é... é um inferno mesmo! Basicamente porque ninguém respeita regra alguma, o que acaba complicando "um pouco" o desenrolar do tráfego...

Enfim, uma hora e meia depois de sairmos de casa, chegamos, finalmente, na estrada -  neste ponto  já estávamos convencidos de que havíamos errado... feio... ou seja, não se deve viajar de carro pelo Peru. 

Mas foi só aí que, acredite, começou o perrengue. 

A estrada é de mão dupla, uma pista para ir, outra para voltar... Soma-se a esse probleminha o fato de que de Lima até Tarma a estrada é inteira de subida (Tarma fica a cerca de 4 mil metros de altitude, sendo que primeiro a estrada sobe até os 5 mil, para depois "descer" até Tarma). E, para piorar um pouco, não há, na estrada inteira, uma reta de mais de 400 metros... Sim, a estrada é toda em curvas.

Para piorar um pouco mais (sim, dá para piorar... porque sempre dá para piorar, não é mesmo?) essa é a única estrada que liga a capital ao centro do País, o que significa que o tráfego de caminhões e ônibus é mais do que intenso.

Tenho certeza que já comentei aqui: as pessoas no Peru dirigem sem respeitar nenhuma regra de trânsito... nenhuma. Simples assim. Portanto, você está na sua faixa, subindo, fazendo curvas, com um maldito caminhão na frente (que não passa de 30 kms/h), e no sentido contrário vem um ônibus louco, tangenciando nas curvas, e invadindo sem dó nem piedade, a sua faixa... Ao seu lado um barranco ou um paredão de pedras, dependendo do lugar em que você está, pois, afinal, a estrada é inteira na serra...

Imaginem uma estrada mão dupla, sem acostamento, cheia de ônibus e caminhões, inteira na subida (ou descida, dependendo do sentido), sem nenhuma reta, com penhascos e/ou pedras de cada lado, e com motoristas assassinos por todos os lados. Sussa, hein? 

Eu sei que passei os 150 quilômetros restantes grudada no banco, me segurando com os pés, as mãos e com todos os santos... Havia momentos em que eu tentava olhar a estrada do banco do carona, para ver se era possível ultrapassar a jamanta que estava na nossa frente (sempre a 20, ou 30 kms/h), em segurança... simplesmente porque as curvas eram tantas, e tão fechadas, que nem sempre o motorista tem visibilidade suficiente da estrada...

Resultado: 150 quilômetros rodados em nada mais nada menos do que 5 horas e meia! Isso mesmo: nós levamos 7 horas para percorrer 240 quilômetros (sem contar a tensão sem tamanho do "passeio"). Tá bom pra você?!

Chegamos com tudo escuro, sem poder ver nada, nem as belezas da estrada - que supostamente seriam um dos atrativos da viagem, segundo quem já tinha ido... Só esperávamos que nos dia seguinte o passeio pela cidade compensasse o perrengue (na verdade, acho que nem se eu estivesse em Paris ou em Roma, o perrengue compensaria... mas vá lá... temos de ser otimistas nessa vida, não é?!).

No dia seguinte fomos dar uma volta pela cidade e vimos que estava rolando uma festa. Era o dia da independência peruana então todo mundo estava na rua, desfilando ou assistindo ao desfile de várias escolas, clubes e associações. Cada turma com seu uniforme, desfilando com suas bandas, bandeiras, formações... bem coisa de cidadezinha do interior, sabe? Foi interessante porque já pudemos dar uma olhada geral em como era a cidade, e conhecer um pouco mais dos costumes do lugar. Tudo super simples, mas todo mundo curtindo demais.




À noite, vinho e lareira no hotel (aliás, ficamos nesse aqui) - em Tarma faz frio, por conta da altitude, e nossa ida foi em pleno inverno. No dia seguinte faríamos um passeio guiado pelos lugares mais interessantes das redondezas.

Na manhã seguinte saímos em direção à "campina" (no fim das contas vimos pouquíssimas flores... nenhuma plantação que merecesse destaque...), passando primeiro por um lugar em que encontramos  algumas lhamas (elas, sempre elas). Fazia um super frio, vento forte, mas a gente não resiste às fotinhos com elas, né? ;) 



Depois seguimos para um lugar onde há um poço com água super salgada... Ninguém sabe direito como se dá o mistério - afinal, estamos a 4000 metros de altitude e tem um poço com água salgada... Como tudo que não se compreende direito vira folclore, a história é que quem bebe a água do poço se apaixona. Como não existe algo como amor "demais" a gente tomou um gole da água (bem pequenininho, pois ela é de fato, salgada).







Por ali visitamos um atelier de tecelões, que tingem sua própria lã, com corantes que tiram de diversas plantas cultivadas na região. As cores são lindas, o trabalho é enorme, e o resultado são os artesanatos peruanos que todos conhecemos (agora que o Peru anda super na moda no Brasil acho que todo mundo sabe como as "artesanias" daqui são coloridas!).






Saindo de lá fomos até uma gruta enorme - La Gruta de Huagapo - onde encontraríamos diversas formas, em estalagmites e estalactites. Cada um com sua lanterna, entrando na gruta, para procurar as figuras. Supostamente uma super atração, mas uma hora me peguei pensando: "o que estou fazendo aqui?". O lugar era escorregadio, cheio de subidas e descidas, gente indo e vindo. Do jeito que o povo aqui é desesperado com terremoto fiquei imaginando que se rolasse um tremblorzinho ia todo mundo sair de empurrando em direção à saída, derrubando quem estivesse na frente... ou seja, desnecessário estar ali, pra ver estalagmite (ou tite) com cara de anjo ou cavalo... Voltei. Rs...




No fim do passeio ainda visitamos uma catedral, perto da cidade (e que eu não me recordo o nome...), e paramos para almoçar. O restaurante - assim como todos os outros da região - servia apenas um prato: pachamanca. Este é um prato típico dos Andes. Algo como um cozido, com carnes (pode ser de vaca, de porco, frango ou cuy) e legumes variados (mandioca, batata, favas, milho), feito em uma panela de barro que é enterrada, junto com pedras quentes, para o cozimento. Parece o nosso barreado, sabe?

A comida nessas regiões é bastante simples - até porque as regiões são muito pobres - então a culinária se baseia nestes vegetais, que são fáceis de cultivar e existem em grande variedade por aqui (assim, qualquer um planta em seu próprio quintal para consumo próprio). Uma senhora que estava conosco no passeio ficou felicíssima porque ia comer a tal da pachamanca. Questão de gosto. Eu não curti.  Achei pesado demais.

No dia seguinte voltamos para Lima - pela estrada da morte - e, finalmente, podemos aproveitar um pouco da paisagem (nos momentos em que não estávamos grudados no banco, ou rezando para que os ônibus e caminhões não nos matassem... enfim....).





Em resumo, a cidade não é tudo que esperávamos e, definitivamente, se tivessem me contado de como era a estrada eu jamais teria ido visitar. Portanto, se alguém quiser conhecer, que vá ciente do perrengue. Talvez assim o passeio seja até mais agradável - já sabendo do que se espera. Por outro lado, pra quem curte viajar (como nós), no fim das contas a gente sempre aproveita! ;)

Beijos,
Tila.