quarta-feira, 15 de junho de 2011

Diário de Viagem - Parte VI - Vale Sagrado e Machu Picchu

Em Cusco nós ficamos 4 dias. Foi ótimo! Deu para passearmos bastante, sem muita correria - muito embora a ida até Machu Picchu tenha sido um pouquinho cansativa...

No primeiro dia a gente visitou a cidade de Cusco, e no dia seguinte saímos para um City Tour, com direito a ida até alguns sítios arqueológicos bem bacanas, que ficam por ali por perto  (em duas horas visitamos os 3 programados).

Antes de sairmos da cidade nós fomos conhecer o Templo do Sol (Koricancha - ao lado), que era o mais rico da cidade - com paredes de ouro e revestidas com pedras preciosas. Claro que ele foi devidamente saqueado pelos simpáticos espanhóis que tomaram a cidade. De toda forma, vale a pena a visita, e é interessante ver como o templo fica incrustrado no meio da cidade.

Depois de visitarmos o templo saímos de Cusco em direção aos demais lugares sagrados. O primeiro deles foi Sacsayhuamán (carinhosamente aplidado pela galera lá de Cusco de "sexywoman", dada a similaridade na pronúncia). O lugar é lindo - e ficou ainda mais bonito com o solzinho gostoso de fim de tarde que tava rolando quando nós chegamos. O guia nos disse que, apesar da fama de se tratar de um posto militar, na verdade seria um local sagrado, onde eram realizadas festas. 

A "fama" de posto militar se deu porque o sítio fica um pouco afastado da cidade - poderia ser um dos caminhos de entrada e, por isso, estrategicamente teria sido montado um posto importante para sua guarda. O interessante é que a construção é basicamente de muros que vão ziguezagueando, serpenteando, o que seria a "praça" ou esplanada principal. Essa poderia ser o local das festas, ou o local das batalhas, dependendo da explicação/função adotada por você. Esse zigue-zague (impressionante) foi construído de uma forma que, se o adversário viesse atacando, quando chegasse perto da muralha, necessariamente se colocaria em uma posição em que um de seus flancos (nossa, tô muito Duque de Caxias!) ficaria descoberto. E aí, babau invasor! Balada na casa dos Incas!

Diz a lenda, também, que no caso de uma invasão à Cusco, todos seus habitantes poderiam se abrigar na fortaleza. Havia uma série de passagens subterrâneas, reservatórios grandes de água (essas torres não resistiram - muitas pedras foram levadas pelos espanhóis para Cusco, para construção de igrejas e outras obras). Ainda assim as ruínas estão muito bem preservadas, e é possível observar com clareza os detalhes característicos da arquitetura Inca - portais, formas trapezoidais, encaixe perfeito das pedras...







Não sei se já comentei, mas a cidade de Cusco tem o formato de um Puma (que assim como a serpente e o condor, era um animal sagrado para os Incas). Sacsayhuamán é a cabeça do Puma. O lugar também é enorme e no dia 24/06 uma das maiores festas de Cusco é realizada ali. Para quem não sabe, o dia 24/06 é bastante celebrado. É o dia da Festa do Sol - que era um dos deuses mais importante para os Incas. Daqui a pouco eu vou falar de Machu Picchu e eu explico melhor porque 24/06, ok?

Saindo de lá nós fomos para Tambomachay, que é um templo para adoração da água. Os Incas, espertinhos como só, entendiam que a água é uma força vital e essencial para os homens, daí a construção do templo, para homenagear a divindade da qual, no fim das contas, nós dependemos. Eles também têm vários templos para a Mamacocha - vulgo, Mãe Natureza - espalhados por toda região. Muito querida para eles a Mãe Natureza, e eu acho que a gente devia aprender um pouquinho com eles sobre essas divindades e o respeito que tinham por elas.

Só que nós chegamos lá no Templo das Águas com o sol baixando e o frio pegando!! Aconselho a vocês que façam esse tour pela manhã, porque encarar a friaca que a gente encarou, subindo ribanceira... ninguém merece. Passamos também por Puca Pucara, mas dessa vez a galera nem quis sair da van... rs... é um forte, em proporções bem menores que Sacsayhuamán, que servia mais como um posto de controle. 

E, por fim, nós passamos por Qenko, que também era um local de cerimônias em homenagem ao Sol, à Lua e às Estrelas. Nós descemos, tava o maior friiiio... e já era noite, com estrelas no céu (muito embora esse fosse o mote do templo, a ideia era chegar com dia claro...). Passamos por um labirinto entre as pedras, meio subterrâneo - confesso que eu tava morrendo de medo porque tava tudo escuro e agente tentando se virar com as luzinhas dos celulares... manja? Sugiro, mesmo, fazer o tour de dia.

Bom, no dia seguinte nós seguimos cedinho para o tour pelo Vale Sagrado. Aí sim! Lindo, lindo, lindo!! Os puristas que me perdoem, mas eu gostei mais do Vale Sagrado do que de Machu Picchu! (#prontofalei!)

No Vale Sagrado corre o rio Urubamba - que é vital para a subsistência das cidadezinhas, pois dele depende o plantio e o sustento da galera que vive por ali - e a paisagem é sensacional! Ao longo do Vale há uma série de cidadezinhas, além das ruínas Incas, algumas delas impressionantes como Ollantaytambo. A propósito, o passeio é lindo, mas esteja preparado. Muitas, mas muitas, subidas! Punk! Sério. Mas vale a pena (e olha que eu sou o ser mais preguiçoso que existe na face da terra - moro de frente pro mar e não tenho o dom de descer o elevador pra ir caminhar! Sacou o naipe da preguiça?!).

Bom... voltando ao Vale Sagrado. Uma fotinhos para vocês entenderem do que eu tô falando!


Lindo, né? 

Nossa primeira parada foi na ruína de Pisac. A cidade começou como um posto militar, pois dali a galera tinha uma vista privilegiada - enxergavam todas as entradas do Vale. Na cidade encontramos as famosas terrazas, para plantio dos mais variados tipos de alimento (nesse lugar, em razão da altitude e inclinação - a cidade ficava num morro - eles conseguiram desenvolver cultivos de plantas em altitudes distintas e variáveis em até 400m) e os templos do sol e da lua (sempre presentes nas cidades incas).

As terrazas




Saindo de lá nós descemos até o povoado de Pisac, onde hoje há uma cidadezinha, com sua feirinha - era um domingo - para umas comprinhas básicas. Ali que o Fred comprou nosso jogo de xadrez com peças representando os chefes incas e eu comprei um colarzinho fofo com uma pedra linda - tudo uma pechincha (15 reais cada um dos regalos).

Seguimos viagem e paramos para almoçar em um hotel numa vila no meio do nada... Inacreditável a qualidade do hotel! Lindíssimo! Super chique! E no meio do nada!! Na verdade o Vale Sagrado é caminho para Machu Picchu... então é "relativamente" no meio do nada, se considerarmos que aquele é o caminho mais famoso do Peru. E uma galera com espírito empreendedor monta uns hotéis bacanudos para os gringos (incluindo nós) que estão a caminho de Machu Picchu. O pior é que eu não me lembro o nome do hotel! Mas vou ver se descolo isso na agência de viagens, caso alguém precise de uma indicação bacana!

Depois do almoço seguimos para Ollantaytambo. Essa foi a cidade Inca que eu mais curti. É realmente impressionante! A cidade ainda é habitada e os moradores fazem questão de preservar as construções e as tradições (especialmente em relação a plantio e colheita de alimentos). E aqui que a subida pega... os degraus são gigantes e irregulares... tem de ter muita força de vontade! Nós chegamos na entrada da cidade com o sol indo embora e um vento fortíssimo! Frio. Mas nada que cinco minutinhos de subida não esquentassem!

Então, começamos a subir (nessa primeira foto dá pra ver a parte da cidade que ainda hoje é habitada).














Ainda não era nem o meio do caminho... 


Na foto ao lado, atrás do Fred, é possível ver que na montanha oposta à que estávamos subindo os incas construíram alguns depósitos de alimentos. 
Aquelas construções preservavam os alimentos devido à altitude - funcionavam como uma verdadeira "geladeira". Mais uma demonstração de como eles dominavam técnicas avançadas de cultivo (e, nesse caso, guarda) de alimentos.

ÊÊÊ! Chegamos!


Sinceramente, não entendo como eles conseguiam levar tantas pedras, e desse tamanho, lá pra cima! O guia dizia que nós não estamos habituados e desconhecemos esse tipo de esforço humano, mas que na época dos incas era normal, pois eles incorporavam isso na rotina deles, etc... etc... etc... Mas eu realmente duvido! Não é possível! Comecei a dar mais valor às teses dos extraterrestres e coisas do gênero... afinal, eu só tive de levar o corpinho e quase morri!!!  Imagina carregar esse monte de pedregulho morro acima!?!? Surreal!

(de fato nosso guia, que tem raízes ali na região, e que tá acostumadasso a essas pirambeiras, parecia que tava passeando na Lagoa Rodrigo de Freitas, apreciando a paisagem, sem deixar cair uma gota de suor, e conseguindo falar conosco enquanto subia!!! Acho que eu só recuperei o dom da fala quando já tava na van...)


Descendo... não pensa que é moleza, viu? Descer esses degraus gigantes e irregulares além de dar um medão de cair láááá de cima, dá uma dor bizarrinha no joelho!! 








Voltamos pra Cusco no fim do dia e eu estava, é claro, o pó da rabiola!!








No dia seguinte seguimos cedo para Machu Picchu. Dessa vez nós optamos por fazer a viagem de trem - 4 horas pelo Vale Sagrado. É um pouco cansativo mas é uma boa opção para quem não quer ficar saindo e entrando em hotel (outra opção é ir até um povoado no Vale Sagrado e dormir por lá, ou dormir em Águas Calientes, que é o povoado no "pé" de Machu Picchu). O trem sai de Cusco por volta das 8hs da manhã, a gente chega em Águas Calientes um pouco depois do meio-dia, sobe a montanha em um ônibus e chega em Machu Picchu por volta das 12:40hs. A visita tem duração de mais ou menos 2 horas, descemos de ônibus, almoçamos, e voltamos pra Cusco em um trem que sai por volta das 16:30hs.


Outra opção é fazer a trilha inca a pé, mas essa, pra mim, tá fora de cogitação - por mais que os guias locais digam que é tranquilo, que basta um pouquinho de condicionamento físico, tô muito fora de ficar subindo e descendo montanha com mochilão nas costas, dormindo em barraca, passando friaca! Claro que tem um monte de gente que vai - inclusive uns tiozinhos que têm um pique inacreditável! -, então, depende mesmo do espírito aventureiro, do preparo físico (que no meu caso é inexistente) e da força de vontade. Achei meio esquisito também ver a galera saindo (saem de um povoado no meio do Vale Sagrado, onde rola uma das paradas do trem, então pudemos ver um grupo saindo), porque vão vários "locais" carregadíssimos - mochilas e apetrechos, carregando nas costas comida, tendas, bebidas, etc...etc.. pros gringos que estão fazendo a caminhada. Quer dizer, você leva uma mochila com suas roupas e junto com o grupo vai um bando de trabalhadores braçais, carregando as "regalias" da galera... sei lá, achei meio deprê...


Enfim, dessa vez fomos de trem e, talvez, na próxima a gente resolva dormir em Águas Calientes ou em alguma cidade do Vale (por exemplo, Ollantaytambo). Para quem pretende entrar em Machu Picchu para ver o sol nascer, ou para subir a outra montanha (que fica na frente da cidade - a mais alta que aparece no fundo da fotografia clássica da entrada da cidade), é essencial dormir em Águas Calientes. A primeira subida do ônibus é por volta das 5:30hs da manhã, e quem quiser fazer um desses programas, é esse o bumba que tem de pegar! (especialmente para subir no outro morro, pois ali só podem entrar até 400 pessoas por dia - em Machu Picchu acho que são até 2 mil por dia).


Chegando lá, depois do trem e depois do ônibus, começamos a subir a pirambeira, para chegar à entrada principal da cidade (depois dali, ufa, só descida pelo meio da cidade).


Machu Picchu é o sítio arqueológico inca mais bem preservado. Não foi descoberto pelos espanhóis e, portanto, não foi saqueado. As construções estão praticamente todas em sua forma original. Um explorador, há exatamente 100 anos, descobriu a cidade por acaso. Estava num povoado próximo e ouviu dizer que tinha um sítio inca não descoberto nas redondezas e por uma módica quantia de 1 sol - o equivalente a R$ 0,60 - convenceu um molequinho da cidade a levá-lo até a tal da cidade perdida.




No centro da cidade ficava uma praça grande, onde eram realizadas as maiores festas e cerimônias - que pudessem ser realizadas fora dos templos. A acústica da praça é super boa! Mega ecooooooo!




Chegando lá me perguntei (pela enésima vez): porque os incas gostavam tanto de construir suas cidades lá no alto? Beeeeem no alto? Pois pra mim não faz o maior sentido ficar carregando um monte de pedras gigantescas ladeira acima (bem acima)!! Explicação: para ficar mais próximos aos seus deuses... ok. Como futebol, política e religião não se discute... Mas olha o tamanho das pedras, mano!!




E olha como era no alto... beeeem no alto! (by the way Machu Picchu é o nome do morro onde fica a cidade, e significa velha montanha... o nome original da cidade ninguém conhece, afinal, não ficou ninguém pra contar a história).




Em Machu Picchu eles têm alguns templos, e o mais legal é o templo em homenagem ao Sol. É o templo das 3 janelas, pois em cada solstício o sol entra de um jeito diferente por elas - e dependendo do jeito que o sol batia eles conseguiam, até, determinar como seria a colheita daquele ano. Ah... essa é a única construção da cidade em formato circular.








E não é que lá em cima a gente encontrou umas simpáticas llamas passeando?! Aqui temos uma na praça central e outra no meio das casinhas...






Outro lance deles com os solstícios: a maior festa dos Incas era no solstício de inverno (seria 21/06, mas comemoram hoje no dia 24/06 - a Festa do Sol!). O solstício de inverno é o dia em que o sol fica mais longe da Terra... assim, é sempre o dia mais curto do ano, e nesse dia os Incas acreditavam que o Sol estava abandonando o povo. Daí a ideia de fazer uma mega balada,  assim, o Sol percebia como os Incas o adoravam, e voltava pra pertinho deles. E dava certo! Todo ano! E até hoje a tradição se mantém! Por isso dia 24/06 rola a maior festa do ano em Cusco!


Esse ano vai ter uma festona também para comemorar os 100 anos do descobrimento de Machu Picchu... mas tem uma galera lá de Cusco não tá tão feliz com a festa, pois acredita que não deveriam comemorar tanto, por conta da exploração do lugar, etc...etc... Particularmente eu achei tudo muito bem preservado, um esquema bacana de limitação de número de turistas  muita organização para entrar, ficar, sair do sítio, além de conservação do local, mesmo. Aliás, a gente achava que chegando no meio do dia seria impossível passear com tranquilidade, ou tirar foto sem que 80 pessoas saíssem no fundo... mas nos surpreendemos, pois realmente não foi isso que aconteceu - visitamos a cidade numa terça-feira, e estava muito mais tranquila do que Ollantaytambo, que visitamos no domingo.


Além disso, me soa um pouco hipócrita essa história, se pensarmos que a cidade de Cusco - e todos os povoados ali por perto - só sobrevivem graças ao turismo. Acho importante manter o controle da quantidade de pessoas que entram e saem de Machu Picchu, assim como é importante manter em boas condições todos os sítios arqueológicos, preservando a história do povo, mas daí a protestar contra a "exploração" causada pelo turismo... meio mentalidade de terceiro mundo para mim...


Mas, enfim, o passeio foi super bacana! Cada lugar mais lindo que o outro, e eu recomendo, a todos que vierem aqui, conhecerem esses lugares pelos quais passamos! Mas se não tiver tempo suficiente (nós viajamos por 10 dias), melhor escolher um ou outro lugar, porque ninguém merece ter de fazer tudo na correria! Os lugares são incríveis, e por isso mesmo é melhor ir com tempo para poder apreciá-los!

















Espero que vocês tenham curtido a viagem com a gente!

Beijos,
Tila.

Um comentário:

  1. Adorei tudo!! já estava pra reclamar o post.
    Vou deixar a ny se recuperar para irmos juntas, afinal ela é a mulher elástico..rsrsrs
    bjs

    ResponderExcluir