sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Days of Thunder

Acho que ainda não comentei isso aqui, mas a senhora que trabalha aqui em casa - minha assistente para assuntos domésticos - adoooora falar. Veja bem, ela gosta mesmo é de falar. Não precisa necessariamente ser uma conversa, um diálogo, ou algo do gênero. A nêga gosta mesmo é de discorrer sobre todo e qualquer assunto. 

Para dar uma ideia melhor do "quadro": quando ela começou a trabalhar aqui - ela e sua impressionante verborragia - eu me sentia meio mal... porque mais da metade das coisas que ela falava, por mais esforço que eu fizesse (e juro que eu fazia!), não conseguia acompanhar!! 

Afinal, eu estudei uns meses de espanhol (alguns anos antes de vir pra cá), conseguia me virar, mas não estava apta a compreender um discurso em velocidade de metralhadora. (Sabe? Aquela pessoa que começa a falar e não para mais... nunca mais! Pois é... ela é assim...) 

E quando eu cheguei aqui eu não tinha ainda o ouvido preparado... não entendia nada quando o povo falava correndo (ainda hoje não entendo 100%... ou eu "capto" o espírito da coisa, ou - se acho que é importante compreender tudo - peço gentilmente para falar mais devagar, pois afinal, aqui eu sou gringa e não entendo! Simples assim.).

Por isso me sentia meio mal porque eu não entendia metade do que ela dizia... E ela chegava falando, falando, falando...  me interrompia umas 48 vezes durante o dia pra perguntar alguma coisa (totalmente desnecessária, cerca de 97% das vezes), ou pra fazer algum comentário sobre qualquer assunto que fosse de interesse (dela)... Acho que ela devia pensar que, já que eu estava em casa, não estava trabalhando... claro! Que home office que nada... conceito meio novo... nem todo mundo entende...

Mas, enfim... depois que dividi toda essa minha angústia com meu irmão ele me deu um sábio conselho: "Aproveita pra treinar seu ouvido com ela, já que cerca de 80% do que ela falar não deve ser realmente relevante para o desenrolar do seu dia... você pode se dar ao luxo de não entender, e continuar "conversando", e treinando seu ouvido...".

Mudou minha vida. Sério. 

Ainda me irrito um pouco, especialmente quando estou concentrada fazendo alguma coisa e ela me interrompe pra perguntar qualquer coisa muito nada a ver... mas já não me desespero quando não entendo...

Bom, aí, na semana passada ela chegou aqui em casa me perguntando: "Sra. Hercília, a Sra. viu o schblébous ontem? Tem disso lá no Brasil??"

E eu: "Vi o quê Ivonne??"

- "O schblébous." (eu continuava sem entender)

- "Ivonne, não sei o que é schblébous..."

-"Aquilo que dá lá no céu, que fica estourando!"

- "Ah.... fogos... sei... tem no Brasil, sim! Mas é mais comum em festas juninas e no Ano Novo..."

-" Não Sra. Hercília, não são fogos, são schblébous!"

- "Ãn... então sei não Ivonne."

Passou. Fiz o almoço, o Fred chegou, nós almoçamos e sentamos no sofá pra ler o jornal. Daí o Fred me vira e manda: "Nossa, você viu o lance do TROVÃO de ontem?"

E eu: "Sério, meu... QUE lance do trovão?"

-" Ontem à tarde caiu um trovão aqui, você não lembra de ter escutado?"

-"Ah sim... ok... verdade, deu um trovão ontem à tarde. Mas e daí?"

- "E daí que o trovão tá em todos os jornais!"

Fato. O Fred traz três jornais pra ler em casa, e todos os três tinham notas (quando não reportagens) sobre o tal do trovão. 

E porque isso? Simplesmente porque o último trovão que rolou aqui em Lima - antes do que rolou semana passada - tinha sido em 1997. Isso: 1997! Há mais de 14 anos!

Moral da história: eu moro numa cidade em que trovão é notícia de jornal (jornais)! E motivo de espanto, e conversa, pra todo mundo!

Ah... e schblébous é trovão, em espanhol!

Beijos,
Tila.

2 comentários: